Dezoito dias antes de ser assassinado a tiros em Cuiabá, o advogado Renato Gomes Nery, havia protocolado uma denúncia na Ordem dos Advogados do Brasil Mato Grosso (OAB-MT), contra os advogados Antônio João de Carvalho Junior e Gaylussac Dantas de Araújo, por participação em um suposto “escritório do crime”.
Antônio João Junior é um dos alvos da Operação Office Crime, deflagrada nesta quinta-feira (28), pela Delegacia de Homicídios e Proteção à pessoa (DHPP) de Cuiabá, que cumpriu cinco mandados contra um grupo de advogados e um casal de empresários, que segundo as investigações, teriam constituído um “escritório do crime” para arquitetarem a morte de Renato Nery em razão de uma disputa de terras no leste de Mato Grosso.
Na denúncia, protocolada na OAB Mato Grosso, em 17 de junho deste ano, dezoito dias antes de sua morte, Renato fez menção a processos judiciais em andamento há quase 40 anos citando o nome de Antônio João, acusando-o de praticar coação a adversários para obtenção de vitórias em suas causas.
Além de Antonio João, o jurista também citou na denúncia à OAB-MT os nomes de um jornalista, um médico, outros dois advogados e também o desembargador Sebastião de Moraes Filho, afastado da Corte Estadual desde agosto deste ano, enfatizando que Antônio teria se aliado a “um exército de malfeitores” para quem se colocasse contra ele e os seus interesses.
Em conversa com jornalistas, o delegado Bruno Abreu garantiu que a denúncia contribuiu para a identificação dos alvos da operação.
“Coincidentemente os escritórios [de advocacia] e os alvos eles estão na denúncia do Renato. Os alvos de hoje são alvos que o Renato denunciou, mas a investigação não partiu só da denúncia dele. Houve uma investigação mais complexa e resultou nos alvos de hoje”, destacou, sem dar mais detalhes sobre as prisões e a investigação do crime.
Assim como Antônio Junior, o advogado Gaylussac Dantas, citado na denúncia de Nery, também foi um dos alvos da Operação Office Crime, junto com o jurista Agnaldo Bezerra Bonfim e o casal de empresários Cesar Jorge Sechi e Julinere Goulart Bastos, presos na cidade de Primavera do Leste (242 km de Cuiabá).
Já o desembargador Sebastião Filho, que está afastado do cargo, está sendo monitorado por tornozeleira eletrônica desde a última terça-feira (26) quando foi alvo da operação Sisamnes, deflagrada pela Polícia Federal e que investiga um suposto esquema de venda de sentenças e ligação direta com o advogado Roberto Zampieri (56), morto a tiros em dezembro de 2023 no bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá.
O crime
Renato Gomes Nery foi alvo de sete disparos de arma de fogo na manhã do dia 5 de julho deste ano, uma sexta-feira, no momento em que chegava em seu escritório, situado na avenida Fernando Correa da Costa, no bairro do Areão, em Cuiabá.
Segundo a Polícia Civil, o atirador já estava esperando pelo advogado e, após atirar, fugiu do local em uma moto Honda Titan de cor vermelha. Uma câmera de segurança de um estabelecimento comercial gravou o momento que a vítima caminha até a porta do escritório, é atingido pelos disparos e cai no chão.